Susan Sontag (1933 – 2004), escritora cineasta e feminista norte-americana, na célebre entrevista que deu para a revista Rolling Stones, afirmou que é difícil escrever sobre o amor porque invariavelmente as pessoas confundem o personagem com o autor, acreditando ser o primeiro a projeção de seu criador. Ou seja, o autor está sempre falando de si próprio através de seus personagens. Amor, Paris, Cinema (versão abrasileirada de Arnaud fait son 2o film) não apenas ressalta a confusão personagem-criador, como a escancara e brinca com os mais engraçados acontecimentos que esta situação pode apresentar.
Arnaud Viard (Grandes Amigos, 2012), que recentemente atuou no primeiro longa de Eleanor Coppola (Paris pode esperar, 2016), dirige e protagoniza o filme, seu segundo longa-metragem.
O filme começa otimista, com Arnaud no banheiro, sentado no vaso sanitário, dizendo “Tudo está difícil, mas depois tudo se resolve”. Esta é apenas a primeira de uma avalanche de situações ilustradas por metáforas.
Sim, ele está certo. Tudo no final se resolve, assim como – metaforicamente – Amor, Paris, Cinema foi concebido. Um filme sobre as dificuldades de um diretor de cinema em realizar o seu segundo longa-metragem, que, em suas palavras, “é uma comédia sobre sexo e cinema, com a história de um cara broxa, que não consegue engravidar sua esposa“.
Mas Arnaud diz para o seu produtor não se tratar de um projeto autobiográfico e precisa convencê-lo de que o longa será um sucesso. Num primeiro momento – depois de ler o roteiro e negar o projeto, ao se despedir -, o produtor ironicamente lhe deseja melhoras quanto “aquele problema”, referindo-se à sua impotência.
Situações engraçadas permeiam as dificuldades. Ele recorre à igreja, psicólogo e empréstimos em banco. Para se sustentar, começa a dar aulas para um grupo de atores, onde a ideia do meta-filme – do cinema falando dele mesmo – é explorada. Faz citações de seus próprios trabalhos, como a série para TV Que Felicidade (Que du bonheur, 2008) que participou e lhe deixou conhecido. E também faz referências a autores consagrados, como François Truffaut (1932 – 1984) e Alfred Hitchcock (1899 – 1980).
Frases capitulares são utilizadas como recurso narrativo, avançando com leveza a história tão recheada de comparações, onde o escrever – em uma cena onde ele se debruça no computador – vira um grande concerto de piano.
Com a música Lança Perfume – de Rita Lee -, o final traz sequências paralelas, mostrando que realmente no final tudo se resolve. E nos deixa a certeza de que o filme é autobiográfico. Pelo menos, em parte.
Amor, Paris, Cinema garante boas risadas e mostra que o cinema possibilita isso: brincar com a realidade. Está aí sua riqueza.
Trailer aqui.
Texto muito bem escrito, brincando com a realidade, sempre. just husband
Marcelo Jacob jacobbatemeta@gmail.com Tel +55 11 99134-8743
Enviado do meu iPad
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obrigada, Just H.
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